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O PRIMO BASÍLIO - Eça de Queirós

terça-feira, 3 de abril de 2012

Resumo
Eça de Queirós foi um dos principais responsáveis pela introdução do realismo em Portugal, e O Primo Basílio foi um dos dois livros (sendo o outro 0 crime do Padre Amaro, também dele) que mais colaboraram para desbancar o romantismo de Camilo Castelo Branco ou Júlio Dinis e instalar em Portugal novos padrões de arte e de visão da sociedade e da vida.
O livro é um delicioso quadro da classe média de Lisboa, com inesquecíveis tipos caricatos, como o Conselheiro Acácio e Dona Felicidade, e uma história ao mesmo tempo banal e envolvente. 
Luísa vive um casamento morno com seu prosaico marido, o engenheiro Jorge, e se intoxica de fantasias românticas, hauridas em livros ou sugeridas nas conversas com sua “devassa” amiga Leopoldina.
No meio de um verão sufocante, durante o qual Jorge faz uma viagem de trabalho, Luísa recebe a visita de um primo rico, seu ex-namorado, agora vivendo em Paris, cidade idealizada nos sonhos românticos da moça.
Uma velha empregada, a ressentida Juliana, a tudo assiste cheia de intenções de vingança. Esses são os ingredientes com que o estilo irresistível de Eça de Queirós compõe a trama do romance.
Disso resulta uma crítica demolidora da moral pequeno-burguesa. A aventura “romântica” de Luísa é vista sem nenhum romantismo; ao contrário, é desnudada pelas lentes implacáveis do realismo, que, nessa época, Eça abraçava com fervor, utilizando-o como método de análise para elaborar um amplo e devastador quadro crítico da sociedade portuguesa.
A força de O Primo Basílio, contudo, não provém de sua trama (que Machado de Assis, em crítica publicada na época do lançamento do livro, demonstrou ser defeituosa), nem de suas intenções de saneamento social, mas sim do poder com que Eça compõe as situações e do encanto do seu estilo.
 O livro inova a criação literária da época com uma crítica demolidora e sarcástica dos costumes da pequena burguesia de Lisboa. Eça de Queiroz ataca uma das instituições mais sólidas: o casamento. Com personagens despidos de virtude, situações dramáticas geradas a partir de sentimentos fúteis e mesquinharias, lances amorosos com motivações vulgares e medíocres – apesar de tudo isso, ao mesmo tempo em que ataca, desperta o interesse da sociedade lisboeta.
     Embora o adultério fosse tema já trabalhado pelo Romantismo, Eça de Queiroz explora o erotismo quando detalha a relação entre os amantes. Inova também ao incluir diálogos sobre homossexualismo. O autor, que já mostrara sua opção por uma literatura ácida e nada sentimental em O Crime do Padre Amaro, cria personagens fisicamente decadentes – cheios de doenças e catarros – e de comportamento sexual promíscuo.
     O Primo Basílio é uma obra naturalista e realista. A escola realista propõe uma criação literária apoiada na análise objetiva da realidade. O narrador aparece como um observador imparcial, que vê os acontecimentos com neutralidade e que domina as informações sobre o contexto no qual o enredo acontece. O Naturalismo traz uma preocupação a mais: tenta introduzir o método científico na obra literária e, com isso, intensifica e amplia as tendências básicas do Realismo.
     Confira a análise completa juntamente com o resumo do livro O Primo Basílio”.
Análise da obra
Publicado em 1878, O Primo Basílio é um dos mais famosos "romances de tese" de Eça de Queirós.
Narrado em 3ª pessoa, apresenta um narrador onisciente que não consegue distanciar-se por completo de suas personagens, o que se caracteriza pela sua onisciência pelo emprego do discurso livre indireto. Há uma intimidade-identificação entre quem narra e quem vive a história.
Eça de Queirós reproduz os acontecimentos, os tipos e os comportamentos humanos das personagens de forma fiel. Há um abuso do recurso da descrição e um exagero no uso de adjetivos. A ironia é também intensamente presente neste romance.
A história de passa na segunda metade do século XIX.
O espaço é Lisboa, o Alentejo, o Paraíso e Paris. Estes últimos lugares não são mencionados diretamente pelo narrador, mas apenas referidos.
Lisboa é o cenário da crítica de Eça de Queirós, é por onde transitam as personagens e onde elas expõem suas condições sócio-econômicas e históricas, é a sociedade portuguesa. O Alentejo é o espaço que rouba Jorge de Luísa, deixando-a num marasmo sem fim. Paris é o cenário que devolve Basílio à Luísa, trazendo alegria e a novidade de uma vida de prazeres e aventuras. A casa é o espaço privilegiado do romance, onde se passam as cenas entre Luísa e Juliana. O Paraíso serve de contraponto da vida doméstica e do mundo das alcovas.
As personagens de O Primo Basílio podem ser consideradas o protótipo da futilidade, da ociosidade daquela sociedade.
Influenciado pela fase realista de Balzac e por Flaubert, Eça de Queirós faz, nesta etapa de sua carreira, um inquérito da vida portuguesa.
A obra combate as principais instituições: a Burguesia, a Monarquia e a Igreja. Critica a cidade, a fim de sondar e analisar as mesmas mazelas, desta vez na capital: para tanto, enfoca um lar burguês aparentemente feliz e perfeito, mas com bases falsas e igualmente podres.
A criação dessas personagens denuncia e acentua o compromisso de O primo Basílio com o seu tempo: a obra deve funcionar como arma de combate social. A burguesia - principal consumidora dos romances nessa época - deveria ver-se no romance e nele encontrar seus defeitos analisados objetivamente, para, assim, poder alterar seu comportamento. O autor critica veementemente o comportamento medíocre da família lisboeta de classe média e usa o adultério como pano de fundo.

Personagens
Luísa: representa a jovem romântica, inconseqüente em suas atitudes, a adúltera ingênua e, no final, arrependida. É o retrato da futilidade, da fragilidade e da ociosidade que caracterizavam as mulheres de sua classe e de seu tempo. Mimada a sonhadora, Luísa precisava ser amparada por uma figura masculina; por isso, quando se vê sem o apoio do marido por perto, procura abrigo a proteção nos braços do primo.
Basílio: o conquistador e irresponsável, "bom vivant" pedante e cínico. Personagem desprovido de qualquer senso moral. Joga com o sentimento alheio. Não tem compromisso com nada nem com ninguém. É o protótipo do filho pródigo, do janota, do "almofadinha". É ele quem serve de elo na medição de forças entre duas mulheres tão diferentes: a frágil Luísa e a obstinada Juliana.
Jorge: Personagem caracterizada por certa hipocrisia masculina aliada à sua tranqüilidade, à sua capacidade de ponderação. Achava que tinha o direito Ache os cursos e faculdades ideais para você na região de Campinas. É fácil e rápido. de julgar as mulheres que tinham amantes, chamando-as de promíscuas, devassas, mas ele próprio teve um caso passageiro em Alentejo do qual apenas o amigo Sebastião tinha conhecimento.
Conselheiro Acácio: Homem de palavratório complicado e inútil. Tipifica o formalismo próprio da época, o falso moralismo, o apego às aparências. Amigo do pai de Jorge e padrinho do casamento gosta de frases feitas e citações morais, mas, na vida privada, lê poemas obscenos de Bocage e mantém como amante a empregada, Adelaide, a qual, por sua vez, o trai com um caixeiro. É um dos tipos mais famosos da galeria queirosiana, e responsável pelos adjetivos "acaciano" e "conselheiral", usados quando se deseja aludir ao falso padrão moral de alguém.
Juliana: personagem mais completa e acabada da obra tem sido vista como o símbolo da amargura e do tédio em relação à profissão. Feia, virgem, solteirona, bastarda, é inconformada com sua situação e por isso odeia a tudo e a todos, não se detendo diante de qualquer sentimento de fundo moral. É a representante maior da população que circundava o lar do engenheiro.
Leopoldina: encarna o avesso da moral da época. Adúltera, fumante, escandaliza a toda a sociedade. Age conscientemente, possui vários amantes.
Ernestinho Ledesma: primo de Jorge é um escritor vazio, preocupado com dramalhões românticos, os quais escreve para o teatro.

Enredo
Os protagonistas dessa obra são Jorge que além de ser um bem-sucedido engenheiro, é funcionário de um ministério, e Luísa, uma moça romântica e sonhadora. Formam o típico casal burguês de classe média da sociedade lisboeta do século XIX. Para completar a felicidade do casal faltavam-lhe apenas um filho.
Havia um grupo de amigos que freqüentava sempre a casa do casal, como era chamada a residência pela vizinhança pobre. Este grupo era constituído por D. Felicidade, a beata que sofria de crises de gasosas, que morria de amores pelo Conselheiro; Sebastião, amigo íntimo de Jorge; Conselheiro Acácio, o bem letrado; Ernestinho, e as empregadas Joana, que era assanhada e namoradeira, e Juliana que era revoltada, invejosa, despeitada e amarga, responsável pelo conflito do romance.

Luísa ainda mantém amizade com uma antiga colega, Leopoldina - chamada a "Pão-e-Queijo" por suas contínuas traições e adultérios, o que não é bem visto pelo marido. Por conta disso, Juliana, a empregada maldosa, espera apenas uma oportunidade para apanhar a patroa "em flagrante".
A felicidade e a segurança de Luísa passam a ser ameaçadas quando Jorge viaja a trabalho para Alentejo a fim de fiscalizar suas minas. Após a partida, Luísa fica enfadada sem ter o que fazer no marasmo e em uma melancolia pela ausência do marido. É nesse meio-tempo que Basílio chega do exterior. Ele e Luísa haviam namorado antes dela conhecer Jorge.
Conquistador e "bon vivant", o primo não leva muito tempo para reconquistar o amor de Luísa, agora transformado em ardente paixão e isso faz com que Luísa pratique o adultério.
Os encontros entre os dois se sucedem, há troca de cartas de amor. Uma delas é interceptada por Juliana, graças aos conselhos "sábios" de tia Vitória. A empregada começa chantagear a patroa, Luísa. Com isso, Luísa se transforma em escrava de Juliana, e começa a adoecer. Por causa de sua frágil constituição, os maus tratos que sofre de Juliana logo lhe tiram o ânimo, minando-lhe a saúde. Basílio foge covardemente, deixando-a sem apoio.
Jorge volta e de nada desconfia, pois Luísa satisfaz todos os caprichos da criada, enquanto tenta todas as soluções possíveis, até que encontra a ajuda desinteressada e pronta de Sebastião, o qual, armando uma cilada para Juliana, intentando levá-la presa, acaba por provocar-lhe um ataque e a morte.
É um novo tempo para Luísa, cercada do carinho de Jorge, de Joana e da nova empregada, porém, tarde demais: enfraquecida pela vida que tivera de suportar sob a tirania de Juliana, é acometida por uma violenta febre. Em delírio, conta a Jorge seu adultério, fazendo-o entrar em desespero e, no entanto, perdoar-lhe a traição. De nada adiantam os carinhos e cuidados do marido e dos amigos de que foi cercada, nem o zelo médico que chegou a raspar-lhe os longos cabelos. Luísa morre e o lar antes "formalmente feliz", se desfaz.
O romance termina com a volta de Basílio e seu cinismo, ao saber da morte da amante, quando comenta com um amigo que se soubesse que Luísa havia morrido teria trazido Alphonsine, a amante que tem em Paris.
CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA
Trata-se, nesta parte, do final do século XVIII, quando começa a extinguir-se a terceira e última fase do Romantismo português. O surgimento da evolução tecnológica e, em decorrência, cultural tende a esvaziar os ideais românticos que prevaleceram por quase
quarenta anos. Portugal — embora tenha conhecido no período uma certa estabilidade, vê-a definhar, em face de suas dificuldades estruturais de
economia — contempla uma Europa renovada nos planos político, social, econômico e cultural. E não apenas contempla, mas também se vê invadido pelas novas conquistas do velho mundo, já que uma juventude operosa e inteligente está atenta àquilo que lhe chega — em 1864 Coimbra se liga à rede européia de caminho-de-ferro — principalmente da França. Portugal assenta-se, incomodamente, numa situação que privilegia o processo oligárquico, com tendências conservadoras, o que impede a visão de novos horizontes sociopolítico-culturais. É nesse ambiente que floresce a “Geração de 70”, influenciada pelos modelos franceses buscados em Balzac, Stendhal, Flaubert e Zola.
Os jovens acadêmicos portugueses absorvem as teorias emergentes, tais como o Determinismo de Taine, o Socialismo “Utópico” de Proudhon, o Positivismo de Auguste Comte e o Evolucionismo de Darwin, entre outras novidades no campo das Ciências e da
Filosofia. Nesse cenário, um acontecimento é marcante: a Questão Coimbrã.
O veterano Antônio Feliciano de Castilho escreve um posfácio à obra Poema da Mocidade, de Pinheiro Chagas, seu discípulo das
letras. O dito posfácio ataca violentamente o ideário da “Geração de 70”.
Instaura-se, abertamente, a rivalidade. Antero de Quental, jovem líder do grupo que se opõe a Castilho, contra-ataca com o opúsculo intitulado Bom Senso e Bom Gosto, em 1865, no qual assim se dirige ao velho Castilho: “... eu hei de sempre ver uma péssima ação, digna de toda a importância dum castigo, nas impensadas e infelizes palavras de V. Exa, dignas quando muito dum sorriso de desdém e do esquecimento. E se eu nem sequer me daria ao incômodo de erguer a cabeça de cima do meu trabalho para escutar essas palavras, entendo que não perco o meu tempo, que sirvo a moral e a verdade, censurando, verberando a desonesta ação de V. Exa.”
Eça de Queirós, porém, não participou da polêmica. Informa-nos a obra História da Literatura Portuguesa, de António José Saraiva e Óscar Lopes: “A consciência da ‘Geração de 70’ desperta dentro destas condições, e no seu despertar tem um papel decisivo a visão da Europa mais adiantada, sobre a qual os moços de Coimbra fixam avidamente os olhos. Antero, Eça, Teófilo e outros os deixaram largos depoimentos sobre as suas leituras, sobre os acontecimentos europeus, a que assistiram de longe, mas apaixonadamente. Tirante Oliveira Martins e poucos mais parecem não dar conta das circunstâncias nacionais que os condicionavam. Toda a sua atenção era atraída pela Europa que lhes chegava como diz Eça, aos pacotes de livros, pelo caminho-de-ferro”.
José Maria Eça de Queirós nasceu em Póvoa do Varzim, em 1845. Faleceu em Paris, no ano de 1900. Foi advogado, cônsul em Havana. Esteve no Egito, assistiu à inauguração do Canal de Suez.
RESUMO DO ENREDO
O tema da obra é a sociedade lisboeta da época, com todas as características presentes na casta burguesa. Luísa é casada com
Jorge, um engenheiro. Jorge, por força de compromissos, viaja para o Alentejo. Luísa é fraca de físico e de caráter. Durante o
interregno envolve-se afetivamente com Basílio, seu primo e antigo namorado, sujeito de inclinações “don-juanescas”. No contexto,
há personagens como Juliana, uma criada grosseira, desonesta, que tira proveito da situação de adultério, escravizando à indefesa
Luísa. O episódio chega ao conhecimento de Jorge, o marido. Luísa fica gravemente enferma e Jorge parece perdoar-lhe o erro. Tarde
demais. Ela morre. Basílio continua a desfaçatez de sua existência.
ESTUDO DAS PERSONAGENS
LUÍSA
Oriunda de uma burguesia decadente é inculta, devotada a um cristianismo de fachada. Tem caráter instável: ora atacada por um sentimento de medo indecifrável — teme perder o status quo adquirido com o casamento com Jorge — ora entregue às carícias do amante Basílio. Representa bem a tibieza da estrutura cultural, moral e religiosa da parcela burguesa de Lisboa.
JORGE
Casado com Luísa é engenheiro. Carrega concepções de superioridade hierárquica no casamento, embora leve vida ambígua: tem diversas relações amorosas furtivas, apoiadas nas freqüentes viagens que faz, por força da profissão. Assim, representa o que há de falso moralismo e arrogância na sociedade.
JULIANA
É a criada. Subjugada pela condição social, vive o inferno da inveja. É malévola, desonesta e não perde oportunidade para explorar, roubar e exigir sob ameaça. Guarda como relíquia tudo que possa ser arma contra a família para quem trabalha.
CONSELHEIRO ACÁCIO
Representa a pseudoformalidade das relações sociais: político dado à corrupção, de fala convincente e amante dos provérbios e frases de efeito, adota um comportamento populista, a fim de se beneficiar.
SEBASTIÃO
Aparentado de Jorge, revela-se prestativo, o “ombro amigo” e seguro. Mostra ser bom caráter.
LEOPOLDINA
Outra burguesa de maus hábitos, maritalmente desonesta e amiga de Luísa, à revelia do falso-moralista Jorge.
DONA FELICIDADE
É o protótipo da beata ignorante. Pratica uma religiosidade impura, eivada de superstições. Representa a parcela da sociedade estúpida, devota a uma religião inócua.
ERNESTINHO
Representante do insucesso profissional: é escritor frustrado, voltado para o “ultra-romantismo” decadente.
BASÍLIO
O mau-caráter representa o burguês de prosperidade duvidosa, pronto a se aproveitar de toda e qualquer situação. Reveste-se de uma maldade inescrupulosa e irônica, usando um falar característico de sua dissimulação.
ANÁLISE DO FOCO NARRATIVO
Um narrador em terceira pessoa, onisciente, é o recurso utilizado por Eça para a expressão do ponto de vista. Tal recurso permite um certo distanciamento entre o leitor e as personagens, o que concede àquele um vislumbre do caráter destas. Para tornar mais clara a explicação, transcreve-se o que diz Reginaldo Pinto de Carvalho em seu belíssimo ensaio: Eça de Queirós: O Senhor das Palavras:
“A narração em terceira pessoa, como em O Primo Basílio, a par com suas vantagens — a onisciência é uma delas — apresenta a desvantagem do distanciamento entre personagem e leitor. Entre eles existe sempre a presença do narrador, mas pode haver meios de compensar essa desvantagem. A técnica do discurso indireto livre seria um meio.
Essa técnica permite inserir a fala da personagem, com toda a sua autenticidade e vitalidade, no interior do relato propriamente dito. O que possibilita ao narrador disfarçar-se e ceder o primeiro plano para a aproximação personagem — leitor. Além disso, evita o uso excessivo da conjunção integrante que, dos chamados verbos dicendi, e incorpora a língua oral à escrita.
Veja-se, a título de exemplo, o seguinte parágrafo, que começa com o relato do narrador e termina com a fala de Luísa:
'Luísa ficou imóvel. Uma lagrimazinha redonda, clara, rolava-lhe pela asa do nariz. Assou-se muito doloridamente. Aquela Juliana! Aquela bisbilhoteira! De má! Para fazer cizânia!'.”
Deve-se entender que, ao se referir a “desvantagens” no recurso do narrador em terceira pessoa, o ensaísta não deprecia a obra de Eça; antes lhe valoriza o recurso, como era de se esperar.
ESTUDO DA LINGUAGEM E ESTILO
Afirmam Saraiva e Lopes, estudiosos portugueses, sobre Eça de Queirós: “Um dos dois ou três grandes artistas que mais modelaram a língua portuguesa, e pode dizer-se que de suas mãos saíram à técnica e os paradigmas estilísticos ainda hoje correntes na nossa língua literária”.
No parecer dos ensaístas já citados, tal influência não incide apenas sobre as letras portuguesas, já que registra incontestável marca de estilo em autores brasileiros e cita como exemplo Graciliano Ramos em Caetês. Essa influência registra-se além do estilo, indo à temática do adultério e mesmo à personagem homônima: Luísa.
Eça depura a linguagem, tira-lhe as rebarbas, os excessos. Valoriza a carga semântica. Dá à palavra a exata medida de seu conteúdo.
Eça de Queirós soube utilizar o adjetivo — que tantas vezes empobrece, avilta e aniquila o estilo — como recurso indispensável da expressão. Em sua obra, o adjetivo constitui uma unidade semântica indecomponível com o substantivo.
Para Eça de Queirós o adjetivo é, também, ferramenta de aproximação entre a abstração e a concretude: ao valer-se do epíteto no nome abstrato consegue efeito surpreendente, como se vê nas passagens seguintes, com nosso grifo:
“— Oh Jorge, que calor que vai lá fora, santo Deus! — Batia as pálpebras sob a irradiação da luz crua e branca.”
“Uma vaga poeira embaciava, tornava espesso o ar luminoso.”
“Era na sala de baixo pintada a oca, que tinha um ar antigo e morgado;...”
Eça destrói de vez — porque Garrett e Camilo já o haviam iniciado — a linguagem rançosa, empolada, artificial do Romantismo.
Impregna-se o texto de Eça de Queirós de uma plasticidade admirável e perfeita.
Os processos descritivos espaciais, em Eça, não são simples palcos em que se instalam os sujeitos do relato: integram o caráter, o perfil das personagens. Retorna-se ao aval de Saraiva e Lopes, que assim se manifestam: “... há uma interação entre o ambiente físico e o homem, de modo que aquele se descreve em termos da percepção humana variável, conforme as personagens e seus estados”.
ANÁLISE DAS IDÉIAS
Eça de Queirós é ferrenho inimigo da mediocridade que assola sua época, quer no ambiente social-burguês, em que a falsidade, o “mau-caratismo”, a avareza, a infidelidade ocupam espaços privilegiados; quer no catolicismo, constituído de um clero estúpido, alheio aos preceitos de um cristianismo sadio e formador de espíritos carolas e supersticiosos.
COMENTÁRIO CRÍTICO E VALORATIVO
A obra de Eça de Queirós é-lhe instrumento com que descarna a sociedade lisboeta de seu tempo. Contudo, tem outro mérito: o da inovação da plástica da linguagem, como já se disse em outro item. É escritor fecundo. Sua obra pode ser classificada em três fases: 1a fase (1866 a 1875): Inicia-se com Prosas Bárbaras, passa por O Mistério de Sintra e Uma Campanha Alegre, uma coletânea de artigos que publicara em As Farpas, periódico de natureza crítica.
2a fase (1875 a 1887): Revela um Eça envolvido com o Realismo. Aparecem aí: O Crime do Padre Amaro, O Primo Basílio, Os Maias e O Mandarim.
3a fase (após 1887): Inserem-se as obras: A Relíquia, A Ilustre Casa de Ramires, A Cidade e as Serras. É a fase da maturidade absoluta do escritor. Há, ainda, obras de edição póstuma.

1 comentários:

Anônimo disse...

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