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SIMBOLISMO-CAMILO PESSANHA

terça-feira, 13 de abril de 2010

O Simbolismo é uma tendência literária,da poesia e outras artes que surgiu na França, no final do século XIX, como oposição ao Realismo, ao Naturalismo e ao Positivismo da época.
Principais características
Transcendentalismo
Subjetivismo
Os simbolistas terão maior interesse pelo particular e individual do que pela visão mais geral. A visão objetiva da realidade não desperta mais interesse, e sim está focalizada sob o ponto de vista de um único indivíduo. Dessa forma, é uma poesia que se opõe à poética parnasiana e se reaproxima da estética romântica, porém mais do que voltar-se para o coração, os simbolistas procuram o mais profundo do "eu", buscam o inconsciente, o sonho.
Musicalidade
A musicalidade é uma das características mais destacadas da estética simbolista, segundo o ensinamento de um dos mestres do simbolismo francês, Paul Verlaine, que em seu poema "Art Poétique", afirma: "De la musique avant toute chose..." (" A música acima de tudo...") Para conseguir aproximação da poesia com a música, os simbolistas lançaram mão de alguns recursos, como por exemplo a aliteração, que consiste na repetição sistemática de um mesmo fonema consonantal, e a assonância, caracterizada pela repetição de fonemas vocálicos.

Um dos princípios básicos dos simbolistas era sugerir através das palavras sem nomear objetivamente os elementos da realidade. Ênfase no imaginário e na fantasia. Para interpretar a realidade, os simbolistas se valem da intuição e não da razão ou da lógica. Preferem o vago, o indefinido ou impreciso. O fato de preferirem as palavras névoa, neblina, e palavras do genêro, transmite a idéia de uma Obsessão pelo branco (uma característica não tão importante do simbolismo) como podemos observar no poema de Cruz e Sousa:

Camilo Pessanha (1867-1926) nasceu a 7 de Setembro de 1867 em Coimbra, tendo tirado o curso de Direito nessa cidade. Em 1894, transferiu-se para Macau, onde, durante três anos, foi professor secundário de Filosofia, deixando de leccionar por ter sido nomeado em 1900 conservador do registro predial em Macau e depois juiz de comarca. Levou uma vida de solitário excêntrico.

"Ó Formas alvas, brancas, Formas claras De luares, de neves, de neblinas!... Ó Formas vagas, fluidas, cristalinas... Incensos dos turíbulos das aras..." [...]

Literatura do simbolismo

Os temas são místicos, espirituais, ocultos. Abusa-se da sinestesia, sensação produzida pela interpenetração de órgãos sensoriais: "cheiro doce" ou "grito vermelho", das aliterações (repetição de letras ou sílabas numa mesma oração: "Na messe que estremece") e das assonâncias, repetição fônica das vogais: repetição da vogal "e" no mesmo exemplo de aliteração, tornando os textos poéticos simbolistas profundamente musicais.
O Simbolismo em Portugal liga-se às atividades das revistas Os Insubmissos e Boêmia Nova, fundadas por estudantes de Coimbra, entre eles Eugênio de Castro, que ao publicar um volume de versos intitulado Oaristos, instaurou essa nova estética em Portugal. Contudo, o consolidador estará, a esse tempo, residindo verdadeiramente no Oriente - trata-se do poeta Camilo Pessanha, venerado pelos jovens poetas que irão constituir a chamada Geração Orpheu.O movimento simbolista durou aproximadamente até 1915, altura em que se iniciou o Modernismo.

Escritores simbolistas

Pode-se dizer que o precursor do movimento, na França, foi o poeta francês Charles Baudelaire com "As Flores do Mal", ainda em 1857.


Mas só em 1881 a nova manifestação é rotulada, com o nome decadentismo, substituído por Simbolismo em manifesto publicado em 1886. Espalhando-se pela Europa, é na França, porém, que tem seus expoentes, como Paul Verlaine, Arthur Rimbaud e Stéphane Mallarmé.
 Portugal
Os nomes de maior destaque no Simbolismo português são: Camilo Pessanha, António Nobre, e Eugénio de Castro.
Brasil
No Brasil, dois grandes poetas destacaram-se dentro do movimento simbolista: Cruz e Sousa e Alphonsus de Guimaraens. No primeiro, a angústia de sua condição, reflete-se no comentário de Manuel Bandeira do Basil: "Não há gritos mais dilacerantes, suspiros mais profundos do que os seus".


Doente dos nervos, com antecedentes familiares patológicos, voltou a Portugal algumas vezes em busca de cura, mas, desiludido, voltou definitivamente para Macau em 1915. Os seus poemas, escritos em folhas soltas e oferecidos a pessoas amigas, dispersaram-se ou chegavam mesmo a perder-se, sem que o autor se desse ao cuidado de guardar cópias, sendo no entanto capaz de reproduzi-los de memória quando desejasse. Assim, graças a João de Castro Osório, a quem ditara as suas produções, foi impresso o volume Clepsidra (1920), com alguns poemas já publicados em revistas mas na maioria ainda inéditos. Depois da segunda edição de sua obra (1945), outros inéditos surgiram.

Influenciado a princípio por Cesário Verde e Pierre Balayet, tornou-se o mais puro dos simbolistas portugueses. O contacto com a cultura chinesa levou-o a escrever vários estudos e a fazer traduções de vários poetas chineses. Foram, todavia, os seus poemas simbolistas que largamente influenciaram a geração de Orpheu, desde Mário de Sá-Carneiro até Fernando Pessoa. Camilo Pessanha morreu a 1 de Março de 1926 em Macau vítima do ópio.
Clepsidra, de Camilo Pessanha
Em Clepsidra, Camilo Pessanha distancia-se de uma situação concreta e pessoal, e sua poesia é pura abstração.

Clepsidra, título simbólico, que se refere a um instrumento de medição do tempo dado na Grécia aos oradores, instrumento do tipo da ampulheta, mas no qual corria água. Foneticamente o título lembra igualmente "hidra", o monstro devorador. O título aponta, assim, para a fragilidade da vida e da condição humana, para o fluir inexorável do tempo, que não deixa que nada se fixe na retina (poema Imagens que passais pela retina). Ora são estes os grandes temas da obra: a efemeridade de tudo quanto passa, a perda, a inutilidade do que se faz ou vive.
Intimamente relacionado com estes temas estão o da desistência e soçobramento, como sentimentos; o receio ou náusea pela consumação dos desejos; a apatia contemplativa e a abulia (incapacidade de querer); a realidade vista como ambígua; a importância da música. Por outro lado, trata-se de uma poesia intelectual que se debruça sobre a problemática do conhecimento - o homem só atinge os fenômenos, as aparências do real, e não a essência, o verdadeiro real; o homem só pode dispor de coisas mutáveis, indefinidas, inconsistentes, fugidias.

O livro foi publicado em 1920 sob os cuidados editoriais de Ana de Castro Osório, por quem o poeta se enamorou.

Poema escolhido:


Ó cores virtuais que jazeis subterrâneas,

- Fulgurações azuis, vermelhos de hemoptise,

Represados clarões, cromáticas vesânias -,

No limbo onde esperais a luz que vos batize,



As pálpebras cerrai, ansiosas não veleis.



Abortos que pendeis as frontes cor de cidra,

Tão graves de cismar, nos bocais dos museus,

E escutando o correr da água na clepsidra,

Vagamente sorris, resignados e ateus,



Cessai de cogitar, o abismo não sondeis.



Gemebundo arrulhar dos sonhos não sonhados,

Que toda a noite errais, doces almas penando,

E as asas lacerais na aresta dos telhados,

E no vento expirais em um queixume brando,



Adormecei. Não suspireis. Não respireis.


Branco e Vermelho
A dor, forte e imprevista,

Ferindo-me, imprevista,

De branca e de imprevista

Foi um deslumbramento,

Que me endoidou a vista,

Fez-me perder a vista,

Fez-me fugir a vista,

Num doce esvaimento.



Como um deserto imenso,

Branco deserto imenso,

Resplandecente e imenso,

Fez-se em redor de mim.

Todo o meu ser, suspenso,

Não sinto já, não penso,

Pairo na luz, suspenso...

Que delícia sem fim!



Na inundação da luz

Banhando os céus a flux,

No êxtase da luz,

Vejo passar, desfila

(Seus pobres corpos nus

Que a distancia reduz,

Amesquinha e reduz

No fundo da pupila)



Na areia imensa e plana

Ao longe a caravana

Sem fim, a caravana

Na linha do horizonte

Da enorme dor humana,

Da insigne dor humana...

A inútil dor humana!

Marcha, curvada a fronte.



Até o chão, curvados,

Exaustos e curvados,

Vão um a um, curvados,

Os seus magros perfis;

Escravos condenados,

No poente recortados,

Em negro recortados,

Magros, mesquinhos, vis.



A cada golpe tremem

Os que de medo tremem,

E as pálpebras me tremem

Quando o açoite vibra.

Estala! e apenas gemem,

Palidamente gemem,

A cada golpe gemem,

Que os desequilibra.



Sob o açoite caem,

A cada golpe caem,

Erguem-se logo. Caem,

Soergue-os o terror...

Até que enfim desmaiem,

Por uma vez desmaiem!

Ei-los que enfim se esvaem,

Vencida, enfim, a dor...



E ali fiquem serenos,

De costas e serenos.

Beije-os a luz, serenos,

Nas amplas frontes calmas.

Ó céus claros e amenos,

Doces jardins amenos,

Onde se sofre menos,

Onde dormem as almas!



A dor, deserto imenso,

Branco deserto imenso,

Resplandecente e imenso,

Foi um deslumbramento.

Todo o meu ser suspenso,

Não sinto já, não penso,

Pairo na luz, suspenso

Num doce esvaimento.



Ó morte, vem depressa,

Acorda, vem depressa,

Acode-me depressa,

Vem-me enxugar o suor,

Que o estertor começa.

É cumprir a promessa.

Já o sonho começa...

Tudo vermelho em flor...


Clepsidra
Camilo Pessanha

I

Inscrição

Eu vi a luz em um país perdido.

A minha alma é lânguida e inerme.

Oh! Quem pudesse deslizar sem ruído!

No chão sumir-se, como faz um verme...

Sonetos

II

Caminho
I
Tenho sonhos cruéis; n alma doente

Sinto um vago receio prematuro.

Vou a medo na aresta do futuro,

Embebido em saudades do presente...

Saudades desta dor que em vão procuro

Do peito afugentar bem rudemente,

Devendo, ao desmaiar sobre o poente,

________________________________________



Cobrir-me o coração dum véu escuro!...

Porque a dor, esta falta d harmonia,

Toda a luz desgrenhada que alumia

As almas doidamente, o céu d agora,

Sem ela o coração é quase nada:

Um sol onde expirasse a madrugada,

Porque é só madrugada quando chora.

II

Encontraste-me um dia no caminho

Em procura de quê, nem eu o sei.

Bom dia, companheiro, te saudei,

Que a jornada é maior indo sozinho

É longe, é muito longe, há muito espinho!

Paraste a repousar, eu descansei...

Na venda em que poisaste, onde poisei,

Bebemos cada um do mesmo vinho.

É no monte escabroso, solitário.

Corta os pés como a rocha dum calvário,

E queima como a areia!... Foi no entanto

Que choramos a dor de cada um...

E o vinho em que choraste era comum:

Tivemos que beber do mesmo pranto.

III

Fez-nos bem, muito bem, esta demora:

Enrijou a coragem fatigada...

Eis os nossos bordões da caminhada,

Vai já rompendo o sol: vamos embora.

Este vinho, mais virgem do que a aurora,

Tão virgem não o temos na jornada...

Enchamos as cabaças: pela estrada,

Daqui inda este néctar avigora!...

________________________________________



Cada um por seu lado!... Eu vou sozinho,

Eu quero arrostar só todo o caminho,

Eu posso resistir à grande calma!...

Deixai-me chorar mais e beber mais,

Perseguir doidamente os meus ideais,

E ter fé e sonhar encher a alma.

Paisagens de inverno

I
meu coração, torna para trás.

Onde vais a correr, desatinado?

Meus olhos incendidos que o pecado

Queimou! o sol! Volvei, noites de paz.

Vergam da neve os olmos dos caminhos.

A cinza arrefeceu sobre o brasido.

Noites da serra, o casebre transido...





meus olhos, cismai como os velhinhos.

Extintas primaveras evocai-as:

Já vai florir o pomar das maceiras.

Hemos de enfeitar os chapéus de maias.

Sossegai, esfriai, olhos febris.

E hemos de ir cantar nas derradeiras

Ladainhas...Doces vozes senis...

II

Passou o outono já, já torna o frio...

Outono de seu riso magoado.

lgido inverno! Oblíquo o sol, gelado...

O sol, e as águas límpidas do rio.

guas claras do rio! guas do rio,

Fugindo sob o meu olhar cansado,

Para onde me levais meu vão cuidado?

Aonde vais, meu coração vazio?

Ficai, cabelos dela, flutuando,

E, debaixo das águas fugidias,

Os seus olhos abertos e cismando...

Onde ides a correr, melancolias?

E, refratadas, longamente ondeando,

As suas mãos translúcidas e frias...

V

San Gabriel


I

Inútil! Calmaria. Já colheram

As velas. As bandeiras sossegaram,

Que tão altas nos topes tremularam,

Gaivotas que a voar desfaleceram.

Pararam de remar! Emudeceram!

(Velhos ritmos que as ondas embalaram)

Que cilada que os ventos nos armaram!

________________________________________



A que foi que tão longe nos trouxeram?

San Gabriel, arcanjo tutelar,

Vem outra vez abençoar o mar,

Vem-nos guiar sobre a planície azul.

Vem-nos levar à conquista final

Da luz, do Bem, doce clarão irreal.

Olhai! Parece o Cruzeiro do Sul!

II

Vem conduzir as naus, as caravelas,

Outra vez, pela noite, na ardentia,

Avivada das quilhas. Dir-se-ia

Irmos arando em um montão de estrelas.

Outra vez vamos! Côncavas as velas,

Cuja brancura, rútila de dia,

O luar dulcifica. Feeria

Do luar não mais deixes de envolvê-las!

Vem guiar-nos, Arcanjo, à nebulosa

Que do além mar vapora, luminosa,

E à noite lactescendo, onde, quietas,

Fulgem as velhas almas namoradas...

Almas tristes, severas, resignadas,

De guerreiros, de santos, de poetas.

VI

Tatuagens complicadas do meu peito:

Troféus, emblemas, dois leões alados...

Mais, entre corações engrinaldados,

Um enorme, soberbo, amor-perfeito...

E o meu brasão... Tem de oiro, num quartel

Vermelho, um lis; tem no outro uma donzela,

Em campo azul, de prata o corpo, aquela

Que é no meu braço como que um broquel.

________________________________________



Timbre: rompante, a megalomania...

Divisa: um ai, que insiste noite e dia

Lembrando ruínas, sepulturas rasas...

Entre castelos serpes batalhantes,

E águias de negro, desfraldando as asas,

Que realça de oiro um colar de besantes!


Vênus

I

À flor da vaga, o seu cabelo verde,

Que o torvelinho enreda e desenreda...

O cheiro a carne que nos embebeda!

Em que desvios a razão se perde!

Pútrido o ventre, azul e aglutinoso,

Que a onda, crassa, num balanço alaga,

E reflui (um olfato que se embriaga)

Como em um sorvo, murmura de gozo.

O seu esboço, na marinha turva...

De pé flutua, levemente curva;

Ficam-lhe os pés atrás, como voando...

E as ondas lutam, como feras mugem,

A lia em que a desfazem disputando,

E arrastando-a na areia, co a salsugem.

II

Singra o navio. Sob a água clara

Vê-se o fundo do mar, de areia fina...

Impecável figura peregrina,

A distância sem fim que nos separa!

________________________________________



Seixinhos da mais alva porcelana,

Conchinhas tenuemente cor de rosa,

Na fria transparência luminosa

Repousam, fundos, sob a água plana.

E a vista sonda, reconstrui, compara,

Tantos naufrágios, perdições, destroços!

fúlgida visão, linda mentira!

Róseas unhinhas que a maré partira...

Dentinhos que o vaivém desengastara...

Conchas, pedrinhas, pedacinhos de ossos...

II

Depois da luta e depois da conquista

Fiquei só! Fora um ato antipático!

Deserta a Ilha, e no lençol aquático

Tudo verde, verde, a perder de vista.

Porque vos fostes, minhas caravelas,

Carregadas de todo o meu tesoiro?

Longas teias de luar de lhama de oiro,

Legendas a diamantes das estrelas!

Quem vos desfez, formas inconsistentes,

Por cujo amor escalei a muralha,

Leão armado, uma espada nos dentes?

Felizes vós, ó mortos da batalha!

Sonhais, de costas, nos olhos abertos

Refletindo as estrelas, boquiabertos...

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