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PARNASIANISMO - OLAVO BILAC

terça-feira, 13 de abril de 2010

Parnasianismo

Parnasianismo foi um movimento literário que surgiu na França, na metade do século XIX e se desenvolveu na literatura européia, chegando ao Brasil. Esta escola literária foi uma oposição ao romantismo, pois representou a valorização da ciência e do positivismo.
O nome parnasianismo surgiu na França e deriva do termo "Parnaso", que na mitologia grega era o monte do deus Apólo e das musas da poesia. Na França, os poetas parnasianos que mais se destacaram foram: Théophile Gautier, Leconte de Lisle, Théodore de Banville e José Maria de Heredia.
Características do Parnasianismo
- Objetividade no tratamento dos temas abordados. O escritor parnasiano trata os temas baseando na realidade, deixando de lado o subjetivismo e a emoção;
- Impessoalidade: a visão do escritor não interfere na abordagem dos fatos;
- Valorização da estética e busca da perfeição. A poesia é valorizada por sua beleza em sí e, portanto, deve ser perfeita do ponto de vista estético;
- O poeta evita a utilização de palavras da mesma classe gramatical em suas poesias, buscando tornar as rimas esteticamente ricas;
- Uso de linguagem rebuscada e vocabulário culto;
- Temas da mitologia grega e da cultura clássica são muito frequentes nas poesias parnasianas;
- Preferência pelos sonetos;
- Valorização da metrificação: o mesmo número de sílabas poéticas é usado em cada verso;
- Uso e valorização da descrição das cenas e objetos.
Parnasianismo no Brasil
No Brasil, o parnasianismo chegou na segunda metade do século XIX e teve força até o movimento modernista (Semana de Arte Moderna de 1922).
Os principais representantes do parnasianismo brasileiro foram:
- Alberto de Oliveira. Obras principais: Meridionais (1884), Versos e Rimas (1895), Poesias (1900), Céu, Terra e Mar (1914), O Culto da Forma na Poesia Brasileira (1916).
- Raimundo Correia. Obras principais: Primeiros Sonhos (1879), Sinfonias(1883), Versos e Versões(1887), Aleluias(1891), Poesias(1898).
- Olavo Bilac. Obras principais: Poesias (1888), Crônicas e novelas (1894), Crítica e fantasia (1904), Conferências literárias (1906), Dicionário de rimas (1913), Tratado de versificação (1910), Ironia e piedade, crônicas (1916), Tarde (1919).
- Francisca Júlia. Obras principais: Mármores (1895), Livro da Infância (1899), Esfínges (1903), Alma Infantil (1912).
- Vicente de Carvalho. Obras principais: Ardentias (1885), Relicário (1888), Rosa, rosa de amor (1902), Poemas e canções, (1908), Versos da mocidade (1909), Páginas soltas (1911), A voz dos sinos, (1916).
* Olavo Bilac, Alberto de Oliveira e Raimundo Correia formaram a chamada "Tríade Parnasiana".

Olavo Bilac (Rio de Janeiro RJ, 1865-1918) começou os cursos de Medicina, no Rio, e Direito, em São Paulo, mas não chegou a concluir nenhuma das faculdades. Em 1884 seu soneto Nero foi publicado na Gazeta de Notícias, do Rio de Janeiro. Em 1887 iniciou carreira de jornalista literário e, em 1888, teve publicado seu primeiro livro, Poesias. Nos anos seguintes, publicaria crônicas, conferências literárias, discursos, livros infantis e didáticos, entre outros. Republicano e nacionalista, escreveu a letra do Hino à Bandeira e fez oposição ao governo de Floriano Peixoto. Foi membro-fundador da Academia Brasileira de Letras, em 1896. Em 1907, foi o primeiro a ser eleito “príncipe dos poetas brasileiros”, pela revista Fon-Fon. De 1915 a 1917, fez campanha cívica nacional pelo serviço militar obrigatório e pela instrução primária. Destaca-se em sua obra poética o livro póstumo Tarde (1919). Parte das crônicas que escreveu em mais de 20 anos de jornalismo está reunida em livros, entre os quais Vossa Insolência (1996). Bilac, autor de alguns dos mais populares poemas brasileiros, é considerado o mais importante de nossos poetas parnasianos. No entanto, para o crítico João Adolfo Hansen, "o mestre do passado, do livro de poesia escrito longe do estéril turbilhão da rua, não será o mesmo mestre do presente, do jornal, a cronicar assuntos cotidianos do Rio, prontinho para intervenções de Agache e a erradicação da plebe rude, expulsa do centro para os morros".
Ontem

XXVII

Ontem - néscio que fui! - maliciosa

Disse uma estrela, a rir, na imensa altura:

"Amigo! uma de nós, a mais formosa

"De todas nós, a mais formosa e pura,



"Faz anos amanhã... Vamos! procura

"A rima de ouro mais brilhante, a rosa

"De cor mais viva e de maior frescura!"

E eu murmurei comigo: "Mentirosa!"



E segui. Pois tão cego fui por elas,

Que, enfim, curado pelos seus enganos,

já não creio em nenhuma das estrelas...



E — mal de mim! — eis-me, a teus pés, em pranto...

Olha: se nada fiz para os teus anos,

Culpa as tuas irmãs que enganam tanto!
Dormes...
XVIII
Dormes... Mas que sussurro a umedecida

Terra desperta? Que rumor enleva

As estrelas, que no alto a Noite leva

Presas, luzindo, à túnica estendida?



São meus versos! Palpita a minha vida

Neles, falenas que a saudade eleva

De meu seio, e que vão, rompendo a treva,

Encher teus sonhos, pomba adormecida!



Dormes, com os seios nus, no travesseiro

Solto o cabelo negro... e ei-los, correndo,

Doudejantes, sutis, teu corpo inteiro



Beijam-te a boca tépida e macia,

Sobem, descem, teu hálito sorvendo

Por que surge tão cedo a luz do dia?!
Por estas noites
XVII
Por estas noites frias e brumosas

É que melhor se pode amar, querida!

Nem uma estrela pálida, perdida

Entre a névoa, abre as pálpebras medrosas



Mas um perfume cálido de rosas

Corre a face da terra adormecida ...

E a névoa cresce, e, em grupos repartida,

Enche os ares de sombras vaporosas:



Sombras errantes, corpos nus, ardentes

Carnes lascivas ... um rumor vibrante

De atritos longos e de beijos quentes ...



E os céus se estendem, palpitando, cheios

Da tépida brancura fulgurante

De um turbilhão de braços e de seios.

Deixa o olhar do mundo
X
Deixa que o olhar do mundo enfim devasse

Teu grande amor que é teu maior segredo!

Que terias perdido, se, mais cedo,

Todo o afeto que sentes se mostrasse?



Basta de enganos! Mostra-me sem medo

Aos homens, afrontando-os face a face:

Quero que os homens todos, quando eu passe,

Invejosos, apontem-me com o dedo.



Olha: não posso mais! Ando tão cheio

Deste amor, que minha’lma se consome

De te exaltar aos olhos do universo...



Ouço em tudo teu nome, em tudo o leio:

E, fatigado de calar teu nome,

Quase o revelo no final de um verso.

De outras sei
IX
De outras sei que se mostram menos frias,

Amando menos do que amar pareces.

Usam todas de lágrimas e preces:

Tu de acerbas risadas e ironias.



De modo tal minha atenção desvias,

Com tal perícia meu engano teces,

Que, se gelado o coração tivesses,

Certo, querida, mais ardor terias.



Olho-te: cega ao meu olhar te fazes ...

Falo-te — e com que fogo a voz levanto! —

Em vão... Finges-te surda às minhas frases...



Surda: e nem ouves meu amargo pranto!

Cega: e nem vês a nova dor que trazes

À dor antiga que doía tanto!

Como a floresta secular

IV
Como a floresta secular, sombria,

Virgem do passo humano e do machado,

Onde apenas, horrendo, ecoa o brado

Do tigre, e cuja agreste ramaria



Não atravessa nunca a luz do dia,

Assim também, da luz do amor privado,

Tinhas o coração ermo e fechado,

Como a floresta secular, sombria...



Hoje, entre os ramos, a canção sonora

Soltam festivamente os passarinhos.

Tinge o cimo das árvores a aurora...



Palpitam flores, estremecem ninhos, . .

E o sol do amor, que não entrava outrora,

Entra dourando a areia dos caminhos.

Em mim também
VI
Em mim também, que descuidado vistes,

Encantado e aumentando o próprio encanto,

Tereis notado que outras cousas canto

Muito diversas das que outrora ouvistes.



Mas amastes, sem dúvida ... Portanto,

Meditai nas tristezas que sentistes:

Que eu, por mim, não conheço cousas tristes,

Que mais aflijam, que torturem tanto.



Quem ama inventa as penas em que vive;

E, em lugar de acalmar as penas, antes

Busca novo pesar com que as avive.



Pois sabei que é por isso que assim ando:

Que é dos loucos somente e dos amantes

Na maior alegria andar chorando.

Um beijo

Foste o beijo melhor da minha vida,

ou talvez o pior...Glória e tormento,

contigo à luz subi do firmamento,

contigo fui pela infernal descida!



Morreste, e o meu desejo não te olvida:

queimas-me o sangue, enches-me o pensamento,

e do teu gosto amargo me alimento,

e rolo-te na boca malferida.



Beijo extremo, meu prêmio e meu castigo,

batismo e extrema-unção, naquele instante

por que, feliz, eu não morri contigo?



Sinto-me o ardor, e o crepitar te escuto,

beijo divino! e anseio delirante,

na perpétua saudade de um minuto....

Delírio


Nua, mas para o amor não cabe o pejo

Na minha a sua boca eu comprimia.

E, em frêmitos carnais, ela dizia:

– Mais abaixo, meu bem, quero o teu beijo!



Na inconsciência bruta do meu desejo

Fremente, a minha boca obedecia,

E os seus seios, tão rígidos mordia,

Fazendo-a arrepiar em doce arpejo.



Em suspiros de gozos infinitos

Disse-me ela, ainda quase em grito:

– Mais abaixo, meu bem! – num frenesi.



No seu ventre pousei a minha boca,

– Mais abaixo, meu bem! – disse ela, louca,

Moralistas, perdoai! Obedeci....

Talvez sonhasse, quando a vi
I
Talvez sonhasse, quando a vi. Mas via

Que, aos raios do luar iluminada

Entre as estrelas trêmulas subia

Uma infinita e cintilante escada.



E eu olhava-a de baixo, olhava-a... Em cada

Degrau, que o ouro mais límpido vestia,

Mudo e sereno, um anjo a harpa doirada,

Ressoante de súplicas, feria...



Tu, mãe sagrada! vós também, formosas

Ilusões! sonhos meus! íeis por ela

Como um bando de sombras vaporosas.



E, ó meu amor! eu te buscava, quando

Vi que no alto surgias, calma e bela,

O olhar celeste para o meu baixando ...

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