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Chove nos campos de Cachoeira

terça-feira, 20 de março de 2012



“Chove nos campos de Cachoeira” foi originalmente publicado em 1940. A obra se ambienta em Cachoeira do Arari, lugarejo no qual habita Alfredo, personagem que se identifica paradigmaticamente com a gente que povoa a Amazônia paraense rural. O romance retrata com plasticidade a existência humilde e agreste de personagens que são pequenos proprietários de terra, campeadores, pescadores, barqueiros, empregados das fazendas, enfim, a matéria humana que Dalcídio chamava carinhosamente de a “farinha-d’água de meus beijus”. 

No enredo, tem-se a ida do menino Alfredo para a capital com a finalidade de dar prosseguimento aos estudos. Os contrastes entre o interior e a metrópole, os costumes da europeizada Belém frente aos da provinciana Marajó se fazem sentir na trama que envolve tanto as memórias afetivas do narrador, quanto um sentimento de pertença à terra marajoara. Destaque-se na referida narrativa o capítulo “Caroço de tucumã”; neste, uma pequena semente de palmeira nativa, que viajou com o pequeno protagonista desde Marajó, ganha significação especial no romance. Longe do solo inundado de Cachoeira na época de cheia, era na semente que o menino buscava a segurança de quem o compreendesse e o animasse: “Sentia-se só, distante, imaginando sempre. Só a bolinha tomava corpo de gente, era sua amiga. Era o corpo da imaginação. Bolinha fiel e rica de fazer de conta!”. Mais do que produto da imaginação e carência pueril, a semente de tucumã faculta interpretações que o tomam como metáfora da semântica amazônica que Dalcídio Jurandir, bem como Alfredo, seu alter ego, jamais deixou de rever. 


ROBERTO S. KAHLMEYER-MERTENS é doutor em filosofia pela Uerj, membro da Academia Brasileira de Literatura (ABDL) 

http://oglobo.globo.com/blogs/prosa/posts/2011/12/24/resenha-de-chove-nos-campos-de-cachoeira-de-dalcidio-jurandir-423083.asp

1 comentários:

Adalberto Nunes disse...

Adorei o texto!

Uma das coisas mais interessantes que já li sobre nosso cronista do Grão Pará!

Adalberto

 
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