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Primeira Manhã-Dalcídio Jurandir

terça-feira, 20 de março de 2012

Primeira Manhã
Em "Primeira manhã", uma longa descida será acompanhada por Alfredo quase por acaso, ao encontrar, em um passeio noturno, duas vizinhas que se dirigiam à caça dos maridos, tentando confirmar traições que eles teriam cometido. Nesse longo episódio, o que acontece no decorrer é mais importante do que propriamente o desfecho, longamente mantido em suspense, retardado por um rememorar entre divertido e amargo da vida das duas mulheres, especialmenteD. Abigail, a mais falante delas. Dessa forma, a trajetória em busca dos maridos traidores também se converte em desabafo com o quase desconhecido que as acompanha nesse percurso de descida: “À proporção que elas acusavam, iam se tornando vencidas, sem razão, nem esperança, enlaçadas na sedução da viagem e do que a noite consentia. Durante o trajeto, o narrador menciona, a certa altura, a natureza descendente dessa empresa, associada à noite, aos ruídos desconhecidos e agourentos, ou seja, ao rumo infernal do percurso empreendido por esses três solitários: “Na busca do marido, D. Abigail ia também desesperadamente curiosa dos infernos onde ele fumegava, e das rivais, não ciumenta, mas invejosa.” Aí aparece, com toda a ambivalência, o significado da associação dos prostíbulos a “inferninhos” e se demonstra que a ida até lá, se é penosa e sofrida para mulheres que se sentem traídas, também contém certa dose de curiosidade e mistério pelo que o lugar possa apresentar em sua configuração ou por suas habitantes, especialmente se são ambientes interditos para mulheres casadas. Na ocasião, não é de se estranhar, como faz a amiga Ivânia, que D. Abigail fale demais sobre suas vidas, pois, nessa descida, também ocorre uma espécie de descenso social, pelo menos um momentâneo romper de fronteiras, ao abrigo da noite; e as duas mulheres deixam de ser aquelas que são “casadas da cabeça aos pés”, como afirmara o narrador anteriormente, e se transformam em pessoas comuns, desabafando sobre o que se passa na intimidade de suas casas. No entanto, a cena termina abruptamente para Alfredo sem que o leitor saiba o desfecho da busca, pois as duas o deixam para trás sem explicação, deixando entrever que caberia apenas a elas cumprirem aquela descida até o fim, mais sombria ainda pela associação com o mundo noturno, povoado de sombras e ruídos sinistros. Nesse mesmo romance, ainda há a longa descida da sempre ausente e tão presente Luciana, que tem de cumprir uma longa e dolorosa via crucis pela suspeita de ter dado “um mau passo”, significativamente libertada da prisão que os pais lhe impuseram por um raio: da associação com a intervenção divina para redimi-la da injustiça que se estava cometendo é um passo. Se, por um lado, ela só aparece no romance por meio do discurso dos outros personagens, sua presença está sempre se renovando graças à obsessão que Alfredo desenvolve por ela, o que o faz buscá-la em vários lugares da cidade, perguntando a todos que possam dar alguma informação sobre a moça amaldiçoada pelos pais. De certa maneira, Alfredo também a acompanha em sua maldição e descida, pela obsessão e pela busca que realiza incomodado por ter à sua disposição a casa da qual Lucianafora expulsa, num paralelo entre a trajetória dessa personagem e a sua própria, humilhado que fora pelos colegas do Ginásio: Agora, esta casa à disposição do estudante que fugiu do estudo, à disposição do ginasiano pelo Ginásio escorraçado. Nesta casa, feita para a predileta vir morar. A anônima corre as ruas da Babilônia, moendo a sua farinha, passa os rios, não mais a tenra nem a delicada.
A desabençoada nunca há de pôr o pé neste soalho, nunca há de ver o mundodebruçada desta janela.
       “Desabençoada” pelos pais, Luciana perdera o lugar que agora é ocupado por Alfredo e este junta mais esta obsessão às suas tantas outras buscas.

 Elementos da Narrativa elaborados pelo professor Lanirson Cabral da Silva

   ELEMENTOS NARRATIVOS DO ROMANCE PRIMEIRA MANHÃ
  Personagens:
  Principal: Alfredo 
  Secundários: Luciana, D. Abigail, Ivânia
  TempoCronológico ( pós-ciclo da borracha e da Belle Epóque)
  Enredo Linear
  NarradorOnisciente e onipresente
 Espaços:  
 Físico: Belém-Pará / Social: Valores interioranos, familiares educacionais, morais, sociais, memorialistas e sociais
  Tipificação: Oitavo Romance do Ciclo Extremo Norte
  Temática:- Os dissabores diante da educação e da decadência de uma cidade ( Belém); As expectativas frustradas de um estudante em primeiro dia de aula; As experiências de um jovem num liceu
   


 Lanirson Cabral da Silva é professor, desde 1981, formado em Licenciatura em letras pela Universidade do Pará, Pós - graduado em Ensino da Literatura Luso-Brasileira pela Universidade do estado do Pará (UEPA), com diversos estudos sobre literatura publicados em revistas e editoriais. Ministrou aulas em várias escolas do Estado e Particulares, hoje, dedica seus conhecimentos ao Grupo Educacional Ideal, onde é professor desde 1994. Poeta, escritor e compositor, com várias canções conhecidas, participações em festivais de música pelo Estado do Pará e fora dele, seminários, encontros e palestras sobre a arte literária. 

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